Lembro que era final de 2011 quando o Cellus veio a mim com a ideia do site.
“Eu tô pensando em fazer um projeto de site a partir daquela conta do Twitter. Você é um dos que sinto que poderia agregar alguma coisa ao negócio.”
Aceitei na mesma hora. Eu tinha a ideia e vontade de fazer uma coluna sobre jogos clássicos que eram meio desconhecidos desde que um amigo meu teve uma ideia similar lá pra idos de 2008 ou 2009. Em parte, eu me lembrava da coluna No Controle, do Pablo Miyazawa, na Nintendo World, e lembro que achava a ideia bem legal, então queria a possibilidade de fazer algo naquele estilo ao mesmo tempo que falava sobre jogos. O projeto desse meu amigo nunca saiu do papel, todavia.
“Tô dentro. Só me avisa com antecedência pra garantir que eu faça um texto massa pra começar.”
“Pode deixar.”
E com isso, alguns meses foram passando. Vez ou outra eu chegava pra perguntar pra ele como tava indo aquele projeto, enquanto esperava ele e o Tuba terminarem o site.
“Tá vindo, calma aí.”
Até que em um dia de Janeiro, após eu recém ter saído de um relacionamento, o site pipocou no ar do mais absoluto nada com esse texto explicativo. O Cellus não tinha me avisado nada, lógico. Então eu tive que montar um NARG sobre EarthBound às pressas em mais ou menos uns quatro dias. Não ficou tão bom, e eu provavelmente fui meio prolixo, mas estava satisfatório e fiquei contente com o resultado.
Mas eu gosto do Cellus ainda assim. Já contei que uma vez eu quase perdi um voo por causa dele? Se não, conto algum outro dia.
O GAMESFODA como nós conhecemos já mudou bastante durante todo esse tempo. Durante o primeiro ano a gente quase parecia um site de variedades onde cada membro tinha a sua coluna específica, dia da semana certo e tudo. Escrever reviews era uma parada que nem ao menos estava na nossa pauta (o NARG era, literalmente, o mais próximo de reviews que a gente tinha), mas isso foi mudando à medida que fomos criando ligações com brothers indies e mesmo empresas. Chegamos até a tentar fazer um modelo hard news por um tempo, mas isso claramente não vingou.
De um modo, eu sinto um pouco de pesar por quem conheceu o site só lá pra 2014 quando claramente não estávamos com o mesmo gás. A quem tiver paciência, cliquem nos links dos artigos “semanais” e vão para as primeiras páginas e leiam os posts de 2012. Entre os meus NARG, os ARTESFODA da Shana e os Tretas de Hong Kong do Afro, tinha muita coisa legal no primeiro ano do site que infelizmente não é muito revisitada hoje em dia. Era um tempo indiscutivelmente mais simples, onde mesmo a “concorrência” era menor, nem todo mundo carregava um smartphone no bolso e conteúdo de YouTube ainda não era rei. Era um tempo mais inocente, em retrospecto, e mais sonhador também.
Lembro que enchi o saco para que fizéssemos um podcast ao vivo por causa do meu amor ao rádio (eu cheguei até a apresentar alguns dos iniciais, mas acho que pouquíssimas pessoas lembram) e sei que fui chato pra cacete com a equipe para que mantivéssemos dentro da pauta, o que gerou alguns desentendimentos vez ou outra. Hoje eu entendo que o Live evoluiu pra algo próprio que parece mais uma conversa ou um podcast tradicional, então optei por me desvincular aos poucos e entender que a parada seguiu seu curso. Agora me divirto mais ouvindo do que participando.
Tivemos também o fórum, que novamente eu enchi o saco para que fizéssemos e atrasou pelo menos um ano. Virou… alguma coisa, deu no que deu. Tempos atrás eu falava que a gente devia ter um grupo no Facebook para poder discutir com a galera, mas do jeito que o Facebook anda hoje em dia, já acho que é melhor ficar todo mundo no Twitter mesmo.
Eu já fui bem mais chato nessa ideia de implementar coisas para o site. Hoje, felizmente deixei isso passar. Desculpa aí, Tuba, por todas as vezes que eu te pentelhei sugerindo mudanças.
Uma das coisas que você aprende quando tá em um mesmo projeto há tanto tempo é que naturalmente vão haver discordâncias. Não é tão diferente de uma convivência mútua. Vão haver ideias, vão haver restrições, vão haver aquelas coisinhas bestas onde a gente vai acabar se exaltando vez ou outra por não ter total certeza de qual caminho tomar. Tem aquelas horas onde você se impôe, onde você dá o braço a torcer, onde você simplesmente joga tudo pro alto e manda o foda-se. Você vai ter afinidades maiores e menores dentro de uma mesma equipe e isso é completamente normal. O ideal é entender que todo mundo se respeita e consegue agir em conjunto em prol de um mesma visão – ou ao menos de uma visão que seja benéfica a todos, em quaisquer níveis. Parece bobagem, falar algo assim sobre um site de joguinhos eletrônicos que tem um palavrão no nome, mas é inegável que isso tudo foi e é uma vivência. É o tipo de coisa que vendo de fora só parece zuera e diversão, mas quando você está dentro, sabe que isso é algo superficial; e vê que por dentro, existe todo um aprendizado.
Algo que eu sempre achei muito bacana (e sei que nossos leitores também) é como cada pessoa da equipe tem o seu nicho específico, seu próprio jeito. Você não vai ver o Neo falando de Moto GP ou o Afro falando sobre destilados, assim como você não vai ver o Cellus babando ovo da SEGA ou a Shana escrevendo um texto enorme sobre dissonância ludonarrativa. Enquanto o Tuba fica mandando piadas de tiozão que fazem o maior sucesso no Twitter, eu faço a estranha tarefa de escrever sobre games com um estilo quase melancólico. Cada um tem aquilo o que gosta, aquilo o que valoriza no meio disso tudo, e eu sinto que é quando a gente fala sobre o que quiser falar que vocês tem o melhor que nós temos a oferecer.
Quatro anos é muita coisa. E nesses quatro anos eu conheci muitas pessoas novas e legais, conheci lugares novos, e vi coisas diferentes que nunca teria visto se o site não existisse. Desenvolvi um gosto pela escrita e me vi tentado a seguir carreiras diferentes à medida que meus gostos e pensamentos mudavam. Descobri que, mais que “talento” (algum dia essa palavra some, espero), muitas vezes são prática e determinação que te fortalecem em uma habilidade relacionada aquilo que você ama. Aprendi a trabalhar em grupo (ou não) e entender mellhor as diferenças. Eu aprendi muita coisa desde que entrei pro GAMESFODA, e por mais que eu não tenha como saber o que aconteceria se o site nunca tivesse existido, prefiro contemplar o que aconteceu diante de sua existência.
Eu não faço a menor ideia do que teremos para o futuro do GAMESFODA. Mas nós estaremos aqui, de um modo ou de outro, em algum lugar. Então nos encontraremos no futuro, aonde quer que ele esteja.