ARTESFODA #5 – Sula e o talento do trabalho duro

15/03/2012 – 18:19

por Shana

Algumas pessoas acreditam que exista o talento. De fato, pode existir, mas ele sempre será ultrapassado por algo chamado esforço. Não dá pra negar que realmente há alguns gênios espalhados pelo mundo, mas, com a conotação que algumas pessoas dão, talento é uma palavra muito frequentemente usada para englobar tão poucas pessoas assim.

Uma pessoa pode nascer talentosa – ou seja, com facilidade para fazer algo. Mas esse algo haverá sempre de ficar estagnado se junto com isso não vier um pouco de suor na testa, noites mal dormidas, membros doloridos e muito café. No fim, o sacrifício será muito mais válido do que simplesmente contar com um dom que você nasceu para desenvolver e não simplesmente aplicar.

E é com isso que lhes apresento a convidada da semana: com vocês, Sula.

JOINHA PROCÊ

Úrsula Dorada, mais conhecida como Sula, é minha conterrânea lá de Porto Alegre, tem 28 anos e trabalha em um estúdio com ilustração publicitária.

Começou a desenhar quando criança, e um dos maiores incentivos foi porque não podia levar os brinquedos pra escola – e o jeito que encontrou de estar sempre com seus personagens preferidos foi desenhando-os. Uma boa idéia pra você aí que perde a vontade de desenhar quando está em casa mas está sentindo falta daquele WoWzinho maroto enquanto trabalha.

Suas maiores referências artísticas são concepts coreanos, como Juno Jeong (Lineage II) e Hyung Tae Kim (Magna Carta e Ragnarok), e outros como Todd Lockwood, Dan dos Santos, Jason Chan, Kekai Kotaki e Dave Rapoza.

Os jogos também vieram na infância, e jogou bastante na época de ouro do 16-bit, até que deu uma freada, pra depois voltar com {{força total}} ao apresentarem Smash Bros. Melee a ela. Com o tempo, acabou se tornando quase que exclusivamente uma pc gamer, só ligando o Wii quando rola Zelda novo. É fã da Nintendo (Sonystas dando ragequit agora), da Blizzard e Valve, sendo Portal e Portal 2 seus jogos preferidos; apesar de também se divertir com indies como Binding of Isaac, Limbo e Dungeon Defenders (sinto cheiro de Steam).

Uma das rainhas mais fdp que já se ouviu falar

Apesar de quase não ter tempo, a maioria dos seus desenhos não-profissionais são fanarts dos jogos que mais gosta. Por causa de Final Fantasy (6, 7 e 8 ) começou a tentar um traço mais realista e, apesar de ter mudado o estilo anos depois, ainda há uma grande admiração pelo estilo ocidental. Sempre que desenha, procura personagens fortes, que passem confiança, e tenta passar essa imagem interna que tem deles. E quer ir longe: um de seus maiores sonhos é fazer uma arte para Magic: The Gathering. Ou então trabalhar na Bioware (ei Bioware, tá perdendo oportunidade aqui, hein). Mas, por enquanto, visa trabalhar como autônoma e com a parte de criação.

Sula é uma admiradora da parte mais técnica de uma pintura. Inclusive já se pegou relevando alguns errinhos porque a iluminação estava sensacional, por exemplo. Mas quanto mais sólida for a base técnica, mais fácil de impressioná-la. O que não desce é algo feito nas coxas, ou então quando acontece uma espécie de “quebra-cabeça”, copiando partes de trabalhos alheios em um só. A palavra-chave aqui é consistência, porque fica óbvio quando se “pega emprestado” de outras fontes, e isso não é bem visto entre os artistas.

O que não quer dizer que isso te impede de fazer fanarts fodas

E Sula conta um pouco da sua experiência como ilustradora profissional.

“Infelizmente no Brasil ser ilustradora não é exatamente divertido. A grande maioria das pessoas não entende o que você faz (“Hein? A senhora lustra móveis?”), e parte nem imagina a quantidade de coisa desenhada que elas consomem (“Como assim? Pensei que os ícones do meu celular fossem tirados da internet!”). Ainda por cima, ainda existe uma pontinha de cultura que diz que as pessoas escolhem fazer arte porque é fácil ou porque não gostam de trabalhar…”

Acho que o assunto é bem conhecido e chega a ser redundante, mas isso serve para reiterar que não, a vida de ilustrador não é fácil, gente.

“Então tudo o q eu gostaria, de verdade, era de um pouco mais de respeito. Não tenho a menor idéia de com o que um monte de gente trabalha, mas eu respeito a profissão deles mesmo assim. Gostaria que fosse uma via de mão dupla. Quando a gente fala que gasta 40h sentada pintando uma única imagem, o pessoal acha que não é possível, que é muita paciência! Aí te oferecem 100 reais para você fazer uma imagem do mesmo nível. Diz, você trabalharia uma semana inteira por 100 reais? Pois é. Eu tenho contas pra pagar também.”

Já dizia o monstro do imposto de renda

Então não esqueça que o melhor que se pode obter vem exclusivamente do quanto se pode oferecer de si mesmo, do quanto se dedica e se esforça naquilo que está fazendo. Talento é algo secundário que não faz as coisas por você. O que aqui “de fora” chamamos de fenômeno, lá, dentro deles, o chamam de “resultado”. Sempre há pra onde expandir e evoluir. Trace seu próprio caminho e siga por ele, mesmo que ele seja tenso (até porque nossos objetivos sempre acabam bizarramente mais fodas de conseguir quando somos nós mesmos que definimos). Você verá que no fim da estrada há um lugar lindo cheio de pôneis coloridos onde a amizade é mágica.

De resto, vocês podem encontrar a Sula no deviantart e G+. Fiquem com a galeria dela e até semana que vem!

 

Shana Ximenes começou a desenhar ainda nos tempos da Rede Manchete, mas trabalha com design pra não morrer de fome. Está por trás de praticamente todos os pixelarts desse site. É uma grande fã de rhythm games, Neil Gaiman e caldo de cana com pastel.

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