ARTESFODA BR #10 – Lumi Mae, a nyan artist dos jogos brasileiros

26/04/2012 – 20:02

por Shana

Desde criança você queria ser um piloto. Ou um músico. Ou um dançarino. Ou o Power Ranger vermelho. Aí chega na vida adulta e o que você mais faz quando chega em casa do trabalho é – ou trabalhar mais ou ficar navegando pelas interwebs. E daí, de repente, está beirando os 30. E pensa “Poxa, tinha, tanta coisa que eu poderia fazer, mas não tenho tempo/saco/vontade/idade/dinheiro/insirasuadesculpaaqui”.

Sua vida está tão estável que dá medo de sair dela e dar com a cara na porta, ou se arrepender, ou se frustrar. Realmente ninguém gosta de passar por esse tipo de coisa, mas veja bem: quando uma oportunidade dessas vai acontecer de novo? Ninguém é jovem para sempre, e a energia de fato acaba um dia. Sair da zona de conforto, mesmo que para as coisas mínimas como, por exemplo, aprender a cozinhar, é uma das decisões mais difíceis de se tomar na vida, porque ninguém está realmente preparado para as adversidades que podem acontecer. Mas aí nos encontramos com uma pessoa que realmente conseguiu ser um Power Ranger vermelho porque deu a cara a tapa, e percebemos que, apesar de difícil, só depende de nós mesmos.

E é com esse baita discurso que apresento a convidada da semana: Lumi Mae!

Queisso menina, fazendo sinal feio!

Luisa Midori Amorim Enomoto tem 25 anos, mora na capital de São Paulo, foi uma das cobaias da turma 1 de Design da FAUUSP e vive de freelance de ilustração/game art/design gráfico.

Já desenhava desde criança, porém foi quando uma tia da 2ª série concedeu à Lumi a honra de desenhar para um painel sobre a poesia “As Borboletas” de Vinicius de Moraes que a porra ficou séria e passou a se dedicar mais.

Normalmente é influenciada pelos jogos que jogou recentemente, como, agora, Journey, Ghost Trick e FFXIII, mas tem alguns artistas que não mudam, como Gueuzav, Bara-chan, Sprits e uma ARTESFODA que já passou por aqui, a Elisa. Há também uma grande influência do estilo mangá, por culpa das meninas da CLAMP (Card Captor Sakura, Rayearth etc etc) e do Ken Akamatsu (Love Hina, Mahou Sensei Negima). Mas, em sua opinião, o que mais pode influenciar um artista é a companhia de outro artista, pois pode-se ver todo o processo de criação e não apenas a arte já pronta.

Desde pequena ela e seu irmão já tinham um Atari, apesar de que gostava mais de assistir sua mamãe viciadona do Tetris jogando por horas a fio (igual à minha que roubava meu 100 games in 1 pra ficar batendo meus recordes). Tiveram muitos consoles, como Master, Mega Drive, PSOne e Nintendo 64, além de jogar no PC. Porém o level asian chegou na categoria RPG, cujas modalidades eram várias:

Tradicional de mesa;

De dedo – para se jogar caminhando – “Você encontra um baú” “Eu abro” “Escolha um dedo. Era uma armadilha.”;

De bonecos – faziam bonecos de massa de modelar e envernizavam (?) com cola branca. Tinham fichas, classes e skills e cada um interpretava o bonequinho que criou;

De Paint Brush – Lumi fez um RPG de Pokémon, onde mestrava para seu primo. Tinha um grande mapa com florestas e cidades, e ela movia os personagens com a ferramenta de seleção. Os pokemons tinham até barra de mana e vida;

De Power Point – era como RPG de livro (aqueles que mandam você ir pra página tal pra continuar a aventura), mas com slides ao invés de páginas. Taí um bom negócio pra se fazer com Power Point, programa que eu ainda não entendo o motivo de ainda existir além de lotar a caixa de entrada do e-mail com coisas do século passado.

góta catxem allll

Seu jogo preferido de todos é Chrono Trigger, que não enjoa de jogar e está sempre ouvindo a trilha sonora (que, convenhamos, é realmente incrível). Fora esse, curte o estilo de Okami, a genialidade de Katamari, o storytelling de Ghost Trick, o sistema de luta de Kingdom Hearts e o level design dos jogos de Mario em geral. Apesar de sua clara preferência por rpgs (ainda estou meio zonza com a lista), já não tem mais tanto tempo pra grindear (tipo ficar andando de um lado pro outro na mesma grama pra entrar em batalhas e upar seu pokemon de nível, quem nunca). Jogos para iPhone também estão entre os jogados agora.

Lumi tem um bom currículo em produção de jogos. Em seu estágio de 4 anos participou de alguns projetos, sendo um card-game e alguns mini-games em Flash. Depois de se formar, trabalhou em uma empresa onde participou de dois jogos sociais, um de moda e o PetLeco. Depois disso, foi para outra empresa onde participou da produção de 5 jogos – um de asministrar castelo, Bunny Shooter, Fireworks, Go-Go Goat e Pet Dash.

Também é uma brother indie, sendo do grupo Catavento, que é composto em sua maioria por colegas de faculdade que começaram em um grupo de estudos em jogos e depois resolveram fazer um (Kelvin). Apesar do caminho tempestuoso por ser um projeto ousado, conseguiram o 3º lugar na categoria indie no SBGames 2011 (palmas!).

Agora está fazendo um freelance para um jogo de polícia e ladrão, e nas horas vagas trabalha com seu namorado programador nos jogos que começaram a fazer nas game jams da vida, o All Souls Light e o Redo. Agora entendi a falta de tempo pra grindear.

"É, realmente, tá facio pra ng"

Como trabalha com jogos, eles estão intimamente ligados com o que produz. Como ela mesma diz, é um ciclo; “jogos (inspiram) > desenhos (inspiram) > jogos (inspiram)” e por aí vai. Mas o que mais chama a atenção dela é como os jogos tem esse poder mágico de propiciar uma experiência que te transforma (gostei dessa frase). Por exemplo, mesmo com gráficos simples, se um jogo for foda, ela acaba achando incrível por causa do conjunto da obra, e cita como exemplo VVVVVV.

Há dois lados da moeda para estabelecer o que é o mais importante em relação ao desenho para ela. Um deles é o conceito e a técnica, porque é o caminho para o aperfeiçoamento. Mas como essa é a resposta boring, há o outro lado: o amor (s2). “Porque só conceito e técnica vão te fazer um engenheiro, não um artista”

Uma pichação em sua faculdade dizia “Não deixe a universidade atrapalhar seus estudos”. Houve uma época em que ela desenhava no trabalho, na faculdade e em casa trabalhava em commissions (encomendas), e isso acabou deixando-a desgastada, pois quase nunca conseguia fazer algo para si, e mesmo que começasse, não terminava, pois sua consciência pesava por não estar fazendo as obrigações. O que a ajudou na época foi fazer desenhos simples com temas que gostasse e pudesse finalizar rápido. Por isso é importante ressaltar para não deixar a profissão de ilustrador atrapalhar sua arte; é bom continuar a fazer o que gosta para nunca parar.

As dificuldades tão aê pra serem superadas etc

Seu objetivo é servir de inspiração para outras pessoas, além de querer participar de um jogo hiper foda, não necessariamente um AAA+, mas que revolucione a indústria (!!).

O que procura passar com os seus desenhos é algo simples, mas muito válido.

 “Procuro passar pra frente! Passar o que aprendi ao longo dos anos, que seja uma pose, uma idéia, um estilo, que seja útil pra alguém, ou que divirta, ou que emocione.”

Uma das suas maiores dificuldades foi e sempre vai ser sair da zona de conforto.

“(…) Arriscar mais, tentar novos estilos, novas técnicas, novas áreas. Por muito tempo achei que um bom artista era aquele com um estilo único, um estilo reconhecido mundialmente por ser o dele, tipo um artista de museu. Hoje eu valorizo mais a versatilidade e acredito que o reconhecimento virá com a experiência.”

Mas profissionalmente o buraco foi um pouco mais embaixo.

“Já tive que enfrentar algumas questões éticas/morais. Participei de projetos complicados onde o briefing era “copie tal jogo” e várias práticas eram adotadas em prol do número de downloads e menos na experiência do jogador. É triste porque, no final, mesmo que o jogo tenha mais de 5 milhões de instalações, são vários os aspectos que te impedem de se orgulhar dele.

 Entretanto, apesar de não me orgulhar, também não posso dizer que me arrependo, porque no fim todo e qualquer projeto implica em ganho de experiência. É a diferença de correr na esteira e terminar uma maratona. A esteira não vai te trazer mérito, mas vai te preparar para a prova de verdade. E quando você terminar a maratona vai se orgulhar e sentir que o treino não foi em vão.”

Tipo muito treino no tetris ajuda a arrumar a mala

As adversidades no caminho sempre irão acontecer, não importa qual seja o caminho que escolher. A diferença não é se você está preparado para enfrentá-las ou não, mas sim, se está disposto, pelo seu objetivo, seja ele pequeno ou não.

E aí? Quem vai ser nosso próximo Ranger vermelho?

Para encontrar a Lumi é só catá-la no twitter, DeviantArt e portifólio.

Fiquem com a galeria dela e até semana que vem!

 

Shana Ximenes começou a desenhar ainda nos tempos da Rede Manchete, mas trabalha com design pra não morrer de fome. Está por trás de praticamente todos os pixelarts desse site. É uma grande fã de rhythm games, Neil Gaiman e caldo de cana com pastel.

Compartilhe

Comentar

Não há nenhum comentário até agora. VOCÊ pode ser o primeiro!

1 Comment

Deixe um comentário

Você precisa estar logado to post a comment.